O uso de animais
como cobaias para pesquisas científicas ou fins didáticos em
universidades é de longe um dos temas mais polêmicos na vida dos pesquisadores
e estudantes já a um bom tempo. Animais como ratos, coelhos e cachorros são
usados desde o século XIX para pesquisar o efeito de doenças e vacinas antes que seu uso seja feito em humanos.
De um lado da discussão encontram-se aqueles que
afirmam que as pesquisas com animais são desnecessárias e cruéis por não
levarem em conta o sofrimento dos animais que são submetidos as mais diversas
situações, tudo em prol do desenvolvimento científico. Neste lado estão
incluídos desde grupos ambientalistas em defesa dos direitos dos animais e até
mesmo alguns poucos pesquisadores que afirmam existir outros meios de se
realizar as pesquisas. Em compensação, do outro lado, encontram-se
pesquisadores tidos como mais conservadores e aqueles que acreditam que a
pesquisa em animais é necessária e pode ocorrer sem que haja sofrimento
desnecessário por parte dos mesmos.
O fato é que durante séculos a utilização de
animais como cobaias foi um grande trunfo para pesquisadores, fisiologistas e outros
estudiosos auxiliando na compreensão dos mecanismos de doenças e
desenvolvimento de vacinas. A vacina contra a raiva, por exemplo, desenvolvida
por Louis Pauster em 1885, que já salvou milhões de vidas de lá para cá e
continuará salvando, foi desenvolvida por ele após a utilização sucessiva de
diversas cobaias.
É claro que estamos séculos a frente de Pauster e
que hoje existem outras técnicas que se não podem substituir completamente o
uso de cobaias podem, pelo menos, diminuí-lo. Métodos como softwares
que simulam as reações em cobaias, modelos matemáticos, vídeos,
cobaias de plástico e experiências in vitro tentam resolver o problema, mas
quem defende o uso de cobaias alega que estas técnicas sozinhas não são
suficientes para realizar estudos seguros, já os defensores dos animais usam a
justificativa de que diversas universidades já aboliram o uso de cobaias para
corroborar suas afirmações.
A UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do
Sul), por exemplo, aboliu o uso de cobaias em salas de aula no final de 2007.
No entanto, a USP (Universidade de São Paulo) e outras instituições,
como o Butantan, mantêm até hoje seus biotérios (como
são chamados os locais para criação
e manipulação de cobaias) com o fim de garantir cobaias para pesquisas.
No Rio de Janeiro e em Florianópolis foram criados
projetos de lei com o intuito de tentar proibir o uso de cobaias em suas
jurisdições. O de Florianópolis está em tramitação há 13 anos e o do Rio de
Janeiro já foi votado, aprovado, mas depois foi anulado pelo então prefeito
César Maia e aguarda nova votação.
Enquanto não surge nenhuma lei federal para “bater
o martelo” sobre a questão, o grupo que luta em defesa dos animais se utiliza
da lei de crimes ambientais (Lei 9.605) para defender sua causa: “Art. 32.
Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três meses
a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência
dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos alternativos.”
Por Caroline Faria
http://www.infoescola.com/ciencias/cobaias/