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Em seminário realizado nesta quarta-feira, dia 13, na sede da OAB/RJ, e
organizado em parceria pelas comissões de Bioética e Biodireito (CBB) e de
Proteção e Defesa dos Animais (CPDA), cientistas e pesquisadores denunciaram
uma ineficácia maior do que a divulgada nos testes de produtos e medicamentos
em animais. Segundo eles, além da questão moral, estudos demonstram que, em
razão da diferença na fisiologia em relação aos humanos, a porcentagem de
aproveitamento desses testes é baixa para o valor investido.
“Apenas de 5% a 12% dos produtos que passam em testes em animais são
aprovados em humanos. Temos então 88% a 95% de falhas, o que demonstra que essa
é uma ciência claramente problemática”, afirmou o biólogo e pesquisador da
Universidade Federal Fluminense (UFF) Róber Bachinski.
As pesquisadoras Márcia Triunfol e Cynthia Schuck reforçaram os dados: “Para
se ter uma ideia, a perecibilidade, ou seja, o que se prevê que dá certo em um
organismo e vá funcionar da mesma forma em outro, entre um rato e um camundongo
é de apenas 60%. Imagine de um rato para um ser humano”, destacou Cynthia.
Márcia, que é pós-doutora pelo National Cancer Institute, dos Estados
Unidos, também atentou para as particularidades fisiológicas: “O primeiro órgão
que é checado nos testes para saber se um composto é ou não tóxico ao ser
humano é o fígado. E recentemente saiu um estudo mostrando como o fígado do
camundongo é completamente diferente do fígado humano. Além disso, os animais
são super dosados e ficam em cativeiros, ou seja, não são as condições ideais
para o organismo deles responder”.
Ela completou: “existe um estigma de que o benefício é enorme. mas na
realidade são milhões e milhões de dólares , bilhões de animais, de vidas, uma
quantidade de recursos absurda e o beneficio é mínimo. É um sistema que não
funciona”. Segundo ela, por meio das técnicas realizadas hoje em animais,
medicamentos de sucesso desenvolvidos há muitos anos não seriam aprovados: “A
Aspirina, que é o remédio mais vendido no mundo, não passaria no teste de
animais porque em doses altas pode provocar sangramento em ratos e cães. Dessa
forma, podemos estar perdendo várias ´aspirinas´ atualmente”.
A cientista apresentou um estudo americano que, segundo ela, poderia
alavancar a mudança de paradigma que os três palestrantes da primeira mesa
defenderam: a simulação de órgãos humanos em chips, que imitariam as condições
do organismo para um teste mais preciso. “As questões que tínhamos há cinquenta
anos não são as mesmas que temos hoje. Os testes com animais tiveram, sim, sua
utilidade, mas agora as questões são muito mais complexas, especificas. Não da
mais para usarmos um modelo levemente parecido”, disse ela.
Cynthia, que é pós-doutora em Biologia evolutiva e cognição animal pela
Universidade de Oxford, na Inglaterra, denunciou o que chamou de “publicação
seletiva” das pesquisas: “Na maioria das vezes somente é mostrado aquilo que
deu certo. E a ideia que se passa é de que aquilo de fato funciona quando, na
verdade, estatisticamente a gente sabe que a cada 20 experimentos, somente um
vai funcionar ao acaso”.
A proposta da especialista é que sejam implementadas para pesquisas com
animais as mesmas regras de testes com humanos: “Os maiores beneficiários ,
além dos animais , serão os próprios pesquisadores, a indústria farmacêutica,
os consumidores básicos da evidência pré-clinica”.
Falando sobre o uso de animais no meio da educação, Bachinski contou que a
utilização no ensino médio e fundamental, proibida no Brasil desde 1979, ainda
é recorrente nos Estados Unidos: “Lá, foram dissecados no ensino médio, só no
ano de 2006, 6 milhões de animais”.
No Brasil, o problema que ele aponta é a opressão de alunos de graduação que
se negam a usar animais no ensino: “Esses estudantes acabam isolados na
faculdade e acabam tendo problemas no desenvolvimento do curso”.
Ele lembrou a Lei Arouca, que determina que não se pode utilizar animais
quando existem métodos alternativos: “A questão é que, para educação, não
existe essa validação dos métodos alternativos. O que existe é conhecimento do
professor sobre eles. Isso que deve ser estimulado”.
O seminário contou também com a participação do presidente da CPDA, Reynaldo
Velloso; da vice-presidente e dos membros da CBB, Fernanda Bianco, Carolina
Velasco e José Pimenta, respectivamente; e com palestras sobre a tutela
jurídica dos animais realizadas pelos especialistas na área Daniel Braga
Lourenço, Fábio Correa e Frank Alarcon.
Fonte: OAB RJ Digital