Após uma série de
escândalos nos últimos anos, o problema gera nova onda de desconfiança sobre a
qualidade dos alimentos no país.
Temendo instabilidade
social, o governo tem tentado mostrar serviço, divulgando operações de
vigilância sanitária como a que levou às recentes apreensões.
Segundo a mídia
estatal, a vigilância sanitária descobriu cerca de 400 casos de carne imprópria
para o consumo e confiscou um total de 20 mil toneladas do produto.
Numa das apreensões,
os suspeitos vendiam falsa carne bovina e de carneiro produzida com restos de
raposa, marta e ratos, após adicionarem produtos químicos.
Houve ainda casos de
carne estragada com conservantes e água injetada, para aumentar o peso, porcos
doentes e frangos com químicos venenosos, disse o ministério de Segurança
Pública.
“Devido à tentação de
aumentar os lucros e às falhas na fiscalização pelos setores competentes, os
crimes de segurança alimentar continuam graves”, disse ao diário estatal “China
Daily” o assessor de imprensa do ministério, Zhang Hongqiang.
Quem vive na China se
habitou com histórias de revirar o estômago sobre a comida que consome, de óleo
de esgoto reaproveitado em restaurantes a melancias que explodem por excesso de
produtos químicos.
Em março, milhares de
porcos mortos surgiram boiando em estado de decomposição num rio perto de
Xangai, supostamente lançados por criadores que detectaram doenças nos animais.
A nova liderança do país, que tomou posse em março, afirmou que o combate à
insegurança alimentar é uma de suas prioridades.
A pressão sobre o
governo aumentou nos últimos anos, sobretudo desde que pelo menos seis crianças
morreram e milhares ficaram doentes em 2008, após consumir leite em pó com
melamina, substância usada para adulterar o nível de proteína.
A desconfiança em
relação a leite adulterado e produtos agrícolas cheios de pesticidas se estende
agora à carne. Sem falar na drástica queda nas vendas de frango e pato nos
últimos meses, devido a um novo surto de gripe aviária surgido no país que já
matou 27 pessoas.
A batida policial nas carnes contaminadas coincidiu com a
divulgação pela mais alta corte do país, nesta sexta-feira, de diretrizes mais
clara para punir crimes de segurança alimentar.
A Corte
Suprema do Povo afirmou que 2.088 pessoas foram processadas por tais crimes
entre 2010 e 2012.
No ano passado, 146
pessoas morreram por intoxicação alimentar no país, estima o ministério da
Saúde, alta 6% em relação a 2011. Especialistas afirmam, porém, que o problema
não é a falta de leis, mas a precária estrutura para aplicá-las, agravada pela
corrupção entre autoridades sanitárias.
“Não basta a polícia
se mobilizar em batidas de curto prazo só porque as notícias de porcos mortos
em rios despertaram preocupação social”, disse o criminalista Wu Mingan à
agência de notícias estatal.
Diante do controle do
governo sobre a circulação de informação, a suspeita é que muitos outros
escândalos sejam acobertados pela censura oficial.
Num dos únicos foros
de livre expressão do país, o microblog Weibo (versão chinesa do Twitter), o
caso mais recente recebeu centenas de comentários, muitos ensinando a
diferenciar entre carne de rato e de carneiro.
A maioria dos usuários
manifestou revolta com a falta de escrúpulos dos comerciantes. “Se um dia a
China acabar não será culpa dos americanos nem dos japoneses, mas dos próprios
chineses”, disse o usuário identificado como Zhenjia20.
“Leite contaminado por
melamina, óleo de esgoto, porco com água injetada, carneiro feito de
ratos…Faltam moral e consciência aos comerciantes chineses”.
Fonte: Folha de São Paulo
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