Estudo
indica que o melhor amigo do homem é capaz de processar a fala humana de forma
mais sofisticada do que se imaginava (Thinkstock/VEJA)
Cachorros
são capazes de responder a diversos comandos feitos por seus tutores, mas estes
muitas vezes se perguntam se eles entendem o que é dito ou apenas a entonação
ou alguma “dica” do que foi falado, respondendo de forma automática. Uma
pesquisa publicada nesta quarta-feira oferece as primeiras respostas para essa
questão e indica que o melhor amigo do homem é capaz de processar a fala humana
de forma mais sofisticada do que se imaginava.
O estudo,
publicado no periódico Current Biology, traz evidências de que os cães são
capazes de entender tanto componentes subjetivos da fala, como a entonação e o
teor emocional, quando as palavras propriamente ditas.
“Apesar
de não podermos dizer quanto ou de que forma os cães entendem informações da
fala humana, podemos afirmar que os cães reagem tanto a informações verbais
quanto a elementos relacionados à pessoa que fala e que esses componentes
parecem ser processados em regiões distintas do cérebro deles”, afirma Victoria
Ratcliffe, da Escola de Psicologia da Universidade de Sussex, na Inglaterra, e
uma das autoras do estudo.
A
pesquisa mostrou ainda que os cães processam a fala humana em um hemisfério do
cérebro, e as informações adicionais no outro. Estudos anteriores já haviam
mostrado essa tendência quando eles processam informações sonoras emitidas por
outros cães.
Observando
as reações
Para
realizar o teste, os pesquisadores reproduziram uma série de comandos
diferentes para os cães, e observaram suas reações. Nesses sons, eles
misturaram as variáveis do sentido da fala e as informações adicionais, criando
palavras com sentido e sem entonação alguma, palavras sem sentido e sem
entonação, com sentido e com entonação e assim em diante.
Os sons
foram emitidos a partir de ambos os lados do animal, para que cada ouvido
recebesse o estímulo ao mesmo tempo e com a mesma amplitude, e os pesquisadores
observavam para que lado os cães viravam a cabeça após escutar cada comando. “O
conteúdo que chega a cada ouvido é transmitido principalmente ao hemisfério
oposto do cérebro. Se um hemisfério é mais especializado em processar certas informações
do som, esses dados devem vir da orelha oposta”, explica Victoria.
Assim,
quando o cachorro se virava para a esquerda, indicava que a informação no som
reproduzido foi captada mais proeminentemente pela orelha esquerda, o que
sugere que o hemisfério direito é mais especializado em processar esse tipo de
informação.
“Se nós
temos um comando ao qual eles estão acostumados a responder, é familiar para
eles, eles reagem de uma forma. Mas se nós misturamos as sílabas, formando algo
que soa similar mas não tem sentido, o comando perde o sentido para eles também
e eles reagem de forma diferente”, explica Victoria.
Quando
eram apresentados comandos falados familiares, os cães mostraram uma tendência
de processar principalmente no hemisfério esquerdo (ou seja, se viravam para a
direita), porém quando a entonação e outras características da fala eram mais
exageradas, era o hemisfério direito que agia principalmente.
“Isso
sugere que o processamento dos componentes da fala no cérebro do cachorro é
dividido entre os dois hemisférios de forma muito similar ao que acontece no
cérebro humano”, afirma David Reby, coautor do estudo e pesquisador da
Universidade de Sussex.
Os
pesquisadores ressaltam que essa descoberta não significa que os cães entendem
tudo o que os humanos dizem ou que eles possuem uma habilidade em linguagem
semelhante à do homem, mas, de acordo com Victoria, os resultados confirmam a
teoria de que esses animais prestam atenção “não apenas em quem somos e como
dizemos as coisas, mas também no que dizemos”.
Qualquer
tutor de cachorro sabe que o bicho é perfeitamente capaz de compreender gestos
e olhares, como a indicação de um local para o qual apontamos ou um olhar de
reprovação. O que poucos sabem, porém, é que essa habilidade de compreensão da
nossa linguagem corporal é extremamente rara entre os animais — nem mesmo os
chimpanzés podem interpretar tão bem nossos gestos quanto os cachorros.
Além de
entender nossos gestos e olhares, cães também podem ser treinados para aprender
palavras e seus significados. Certa vez, uma pesquisadora da Alemanha descobriu
que seu cachorro aprendeu os significados de dezenas de novas palavras por meio
de um processo de dedução lógica igual ao que crianças usam para descobrir
nomes de objetos desconhecidos. Em outro experimento, um professor de psicologia
conseguiu fazer com que sua cadela aprendesse o nome de 1 000 objetos.
Os
cachorros podem não falar, mas nem por isso são incapazes de se comunicar com
os humanos. Assim como o choro de um recém-nascido pode ter vários
significados, os cães usam diferentes tipos de latidos e rosnados para se
expressar e ser compreendido pelos humanos — pesquisas mostram que os latidos
representam apenas 3% das vocalizações dos lobos, provando que o hábito de
latir é mesmo um recurso decorrente da domesticação. Outros estudos indicam
ainda que a maioria dos tutores parece entender os significados dos diversos
latidos de seus cachorros.
Ao
contrário do que acontece em outros grupos de animais, os líderes das matilhas
não são um casal reprodutor dominante, mas sim os cães que têm mais amigos.
Quanto maior a “rede de contatos” de um cachorro, maiores são as chances de que
os outros o considerem um líder e o siga aonde ele for.
Existem fortes indícios de que o sentimento de
empatia, ou seja, de se sentir mal ao ver alguém sofrendo e ficar feliz quando
alguém sorri, está presente nos cães. Em 50% dos casos de briga entre dois
cachorros, um terceiro elemento que não estava envolvido na luta se aproxima do
perdedor. A aproximação aconteceu mesmo nos casos em que esse terceiro elemento
não tinha visto o embate. Isso significa que os cães reagem ao comportamento do
companheiro de espécie que indica a derrota.
A
inteligência dos cachorros também tem seu lado negativo. Um estudo realizado na
Universidade de Viena, na Áustria, mostrou que os cães sabem quando estão ou
não sendo observados pelo tutor e se comportam de formas diferentes de acordo
com isso. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que os animais desobedecem
mais ordens quando os tutores não estão no mesmo ambiente que eles ou estão
distraídos por alguma outra atividade, como ler ou ver TV.
Fonte: Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário