Prepare o seu coração….Pras coisas que eu vou
falar….Eu venho lá do sertão…..E posso não te agradar…Então não pude
seguir…Valente em lugar tenente…E dono de gado e gente…Porque gado agente
marca…Tange, ferra, engorda e mata…Mas com gente é diferente.
Por que
com gente é diferente? O que nos separa dos animais? A fala? Eles também têm
sua linguagem. A inteligência? Eles realmente não têm capacidade para construir
uma bomba atômica. A dor? Os mecanismos fisiológicos são os mesmos. Por quê com
eles é diferente?
O que nos
aproxima dos animais? Quando alguém é burro como uma anta? Forte como um
cavalo? Ladrão como um rato? Idiota como uma toupeira?
Nos
diferenciamos dos animais porque nos espelhamos neles para nos afirmar como
espécie. Tudo que não gostamos em nós é o que rejeitamos neles, como se
tivéssemos vergonha de nosso passado e tivéssemos evoluído e eles não. Eles nos
lembram o que queremos esconder. Eles são o nosso espelho e nosso avesso.
Historicamente,
a loucura humana antes de ser encarada como uma patologia era identificada
quando adotamos comportamentos que não nos são adequados, como ficar nús, comer
no chão, gritar descontroladamente, morder os outros e babar. Ainda hoje,
quando alguém “perde a razão“ dizemos que ficou louco e parece um animal.
Parecer um animal não é adequado, é uma vergonha.
O
filósofo franco- argelino Derrida sentiu-se incomodado ao se ver observado por
um gato enquanto estava nu. O outro o estava observando e este outro está na
verdade muito perto de nós, separado apenas por um olhar. O olhar que não
realizamos. O abismo que criamos entre nós e os ”outros” está em não nos
reconhecermos mais como animais também, e acharmos que já evoluimos tanto que
somos uma categoria superior.
O que nos
separa dos animais entretanto, pode ser o que nos deixa sem identidade, uma vez
que ao tentarmos negar nossa animalidade, negamos a nós mesmos. A evolução da
nossa consciência, capacidade de discernimento e mudanças pensadas não deveria
nos separar das outras consciências. Deveríamos ter evoluído para uma espécie
onde valores como respeito aos outros e seus níveis evolutivos fosse a regra e
não a exceção. Dentre as muitas coisas que nos separam dos outros animais, uma
que não nos traz orgulho é o fato de sermos escravagistas para com os outros,
porque é o que nos torna menos evoluídos ao contrário do que pensamos. Em algum
momento erramos o caminho.
Quando
será que veremos com o mesmo horror comermos os outros animais, como vemos com
horror a antropofagia hoje? Quando isto acontecer seremos uma espécie melhor,
muito melhor…inclusive para nós mesmos.
*Leonardo Maciel Andrade é graduado em medicina veterinária pela UFMG, com aperfeiçoamento
em clínica e
cirurgia pela UFMG. Mestre em clínica e cirurgia pela UFMG. Especialista em animais silvestres. Ex-parecerista dos comitês de ética da UFMG
e PUC-MINAS. Sócio proprietário do Animal Center Hospital
Veterinário, que recebe
animais silvestres do tráfico e cativeiro clandestino. Co-fundador da Associação Bichos
Gerais. Professor de clínica de
animais silvestres da PUC-MINAS.
Fonte: Olhar Animal
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